O Mistério De Esther Mudget

LolitaDoMalLolitaDoMal Posts: 530 Member
Olá, Simmers!

Voltei com uma história novinha em folha, baseada no lore da Sociedade Secreta! Não se preocupe se vc não leu outras histórias minhas, afinal esta não tem nenhuma ligação com elas, isso mesmo, sem Jack e Alix (não precisa chorar, @pmattos , @So94 e @priscamelo77 , eles passam bem e voltam logo).

Espero que gostem!

Capítulo 1

O brado raivoso de Sofia Bjergsen ecoou pelo corredor da casa, fazendo sua irmãzinha Elsa se encolher ao passo em que era enxotada do quarto de Sofia, que lhe dizia, com impaciência, que não tinha tempo para brincar, afinal fazia planos de passar a noite toda ao lado de sua celebridade favorita. Bem, pelo menos através da tela de seu computador. Apressada, Sofia bateu a porta do quarto com força e em seguida Elsa, que fazia planos de invadir novamente o quarto da irmã, ouviu o ruído da chave que trancava a porta. A criança bufou aborrecida e saiu pelo corredor, pisando duro, enquanto Sofia, em seu quarto, corria para voltar à cadeira e gritava furiosa por ter perdido o exato momento em que Hope Langley compelira, com seus poderes místicos, o modelo que posava para os membros da Sociedade de Arte a dançar enlouquecidamente dentro do círculo formado pelos artistas, saltitando e balbuciando loucuras incompreensíveis, deixando os membros da organização confusos, com exceção de Hope, que gargalhava atrás de sua tela, exibindo as afiadas presas em sua boca.

Ninguém ficou sabendo o que diabos havia acontecido com o modelo para agir daquela forma, tampouco tiveram tempo para investigar, afinal não demorou para que o rapaz invadisse o espaço de cada um dos membros, tomando seus pincéis e paletas para interferir em seus esboços, criando artes abstratas de todas as formas imagináveis. Ignorando o alvoroço, Hope se preocupava em pintar o caos sem dar muita importância à referência, ao mesmo tempo em que falava sem parar com as pessoas que naquele momento assistiam sua live por toda SimCity e além! Estava sendo seguida de perto por um drone de cor púrpura e com formato esférico, a quem ela se referia como Glyph. No entanto, sua concentração não permaneceu inabalável por muito tempo, visto que dois dos artistas se aborreceram com a dança do modelo e decidiram fazê-lo parar. Um deles acabou com o rosto pincelado de verde enquanto o outro se enfureceu, após ser acidentalmente atingido no nariz, e partiu para cima do modelo, se envolvendo com ele em uma massa de fumaça e onomatopeias que rolou pela margem do canal até atingir o cavalete de Hope, derrubando-o com sua tela, que não demorou a sucumbir aos corpos dos brigões, que deixaram nela sua marca bem como as tintas lhes marcaram a pele.

Hope olhou chocada para sua arte completamente bagunçada por cores mistas e distorcidas em formas que ninguém poderia reconhecer se tratarem de sims. Não demorou para que suas presas surgissem novamente em um enorme sorriso eufórico.

– Vejam a minha obra-prima, seus vermes! – disse muito alegremente, direcionando-se para a câmera a fim de posiciona-la para melhor captar a loucura psicodélica em sua tela rodeada pela grama levemente tingida pelas cores que respigaram. – Não é maravilhosa?! – indagou animada antes de soltar Glyph para que este voltasse a segui-la, flutuando, e, sem se preocupar com a bola de fumaça, que àquela altura já se expandira com pelo menos mais duas pessoas furiosas, Hope sacou seu smartphone para fotografar sua arte e compartilha-la no Simstagram, depois pegou a tela do chão e a lançou para o alto, fazendo surgir uma chuva de simoleons que logo desapareceram do cenário para adicionar uma grande soma aos fundos da família Langley. – Não é qualquer um que tem a capacidade de arquitetar uma obra-prima de verdade – gabou-se, orgulhosa pelos frutos rendidos por sua pequena travessura vampiresca.

Enquanto checava as mensagens no smartphone, Hope se deu conta de que estava quase na hora do encontro do Clube de Debate, portanto despediu-se de seus colegas, chamando-os carinhosamente de “otários”, e caminhou em direção ao Darby’s Den enquanto não tirava os olhos do smartphone, digitando tão depressa que mal parecia ter apenas dois polegares, também continuava a falar com sua audiência, muito embora não desse muita atenção aos seus comentários e doações.

Lá dentro os membros da organização chegavam aos pares, todos eles caracterizados com terninhos e suéteres que ostentavam as cores da UBrite, deixando Hope bastante feliz por se destacar com suas roupas pretas e os óculos escuros que escondiam seus brilhantes olhos vermelhos sedentos por plasma. Claro que Hope não perdeu tempo para zombar das vestes de seus colegas, alegrando seus seguidores com piadas das mais cruéis, as quais nenhum dos debatedores pareceu ouvir ou dar importância, uma vez que estavam muito mais interessados em assistir ao debate sobre a importância das lições de casa, ao qual Hope não deu a menor atenção afinal lhe pareceu extremamente entediante, além disso, como disse a sua plateia, as habilidades de retórica de seus colegas não se comparavam às dos sofistas de mais baixo nível. Quando sua vez de debater chegou, Hope foi pega no meio de um longo bocejo preguiçoso, muito embora houvesse dormido o dia todo e sua ação não passara de uma teatralidade que não foi notada pelos outros. Confiante, ela subiu no palanque junto de Becca Clarke enquanto Glyph se posicionava diante das duas, a fim de dar aos seguidores de Hope a melhor visão do debate no qual Becca pretendia defender a verdade indiscutível, como dissera, de que plantas-vacas, como sugeria o nome, eram de fato plantas.

A garota começou confiante até que se deu conta de Glyph e pareceu muito constrangida com a ideia de estar sendo filmada. Pigarreou algumas vezes, puxou a gola do suéter e olhou para os lados, enquanto gaguejava ao defender seu ponto de vista. No entanto, Hope conseguiu fazer Becca se atrapalhar, atropelar as próprias palavras e discursar como um papagaio que acabara de aprender a falar, isso tudo com um simples bocejo teatral, afinal Hope não estava disposta a usar seus poderes em uma oponente tão mal preparada. Quando seu momento de fala finalmente chegou, Hope não perdeu a chance de iniciar seu argumento com uma risada forçada e carregada de deboche.

– Isso é um tópico realmente sério? – questionou olhando para os membros da organização e especialmente para a câmera, a fim de piscar para seus fãs. – Você clama que plantas-vacas são plantas, no entanto, já viu realmente como são criadas? Já viu alguma delas fazer fotossíntese? Pois se viu pode esperar que qualquer botânico lhe acuse de insanidade – falou Hope, fazendo Becca olhar para os lados um tanto constrangida. Baixando a voz para um sussurro, Hope acrescentou: – Para a câmera, meu amor, olhe para a câmera enquanto eu detono você – e pigarreou. – Não! Plantas-vacas não fazem fotossíntese, afinal são seres heterótrofos que se alimentam de carne, muitas vezes humana, e sendo assim, seu nome é um completo erro, afinal, apesar de sua aparência, plantas-vacas nem mesmo são ruminantes – Hope voltou a mirar cada pessoa na plateia enquanto acrescentava: – Sério? Vocês não pensaram realmente que um debate desses precisaria mais do que isso para ser concluído. Plantas-vacas não são nem plantas, nem vacas!

A plateia parecia chocada, e não demorou para começar um murmurinho enquanto discutiam entre si os argumentos de Hope, ignorando completamente o que Becca tentava falar a respeito de plantas carnívoras, completamente desconfortável com seu fracasso. A única que lhe deu alguma atenção foi Hope, que não segurou uma gargalhada antes de lhe informar sobre os processos autotróficos de alimentação daquelas plantas, além de acrescentar informações sobre suas células dotadas de parede celular e vacúolo, diferente da das plantas-vacas, que não eram plantas coisa alguma, e com a repetição desta última frase não restou nada a Becca além de abrir a boca, hesitar e por fim se entregar às lágrimas e sair correndo do Derby’s Den, seguida por sua amiga Julia.

Hope não perdeu a oportunidade de zombar da garota enquanto descia do palanque, comentando como não era apenas despreparada com relação aos debates, como também emocionalmente. E como a noite era curta demais para desperdiçar sua não-vida assistindo aos próximos debates tão desinteressantes quanto àquele primeiro, Hope atiçou seu público prometendo a participação de outra grande celebridade das mídias sociais, além de uma exibição de poderes, algo que sempre deixava seus fãs alucinados. Dali ela voltou para sua cidade e rumou para o Planet Honey Pop, onde pretendia cantar até estourar os tímpanos de cada sim em um raio de trinta metros com ninguém menos que a maravilhosa Penny Pizzazz!

As duas enlouqueceram a audiência ao cantarem músicas inusitadas e que nenhum dos seguidores adolescentes de Hope jamais ouviram falar. Acreditaram até que eram músicas inventadas pelas duas ou que foram criadas pelos incríveis artistas de San Myshuno, e ignoraram completamente os poucos seguidores que tentaram explicar que se tratavam de músicas das Andrews Sisters e outros cantores da época, mas ninguém ali acreditava que havia músicas boas em outras décadas que não fossem a sua. A festa continuou com mais das exibições de poderes de Hope, que compeliu alguns sims a brigarem, outros a limparem loucamente as mesas do bar, alguns a paquerarem outros sims, o que na maioria dos casos acabou em bofetadas, além de Penny sendo desafiada a beber tanto quanto aguentasse, o que terminou com ela apagada sobre uma das mesas, soluçando e ocasionalmente falando sozinha entre um cochilo e outro. Quanto a Hope, que àquela altura estava faminta, esta decidiu levar Glyph em seu encalço enquanto caçava uma presa digna o bastante de suas presas e de seus fãs, que não esperavam menos do que ver seu ídolo hipnotizar uma vítima e sugar seu sangue até fazê-lo desmaiar, satisfazendo sua besta interior bem como seus fãs, que vibravam em suas casas e no chat.

Quando a live finalmente terminou, a aurora já podia ser vista através da janela da casa de Hope, onde ela entrou cambaleando de sono, completamente esquecida de que largara sua amiga dormindo em uma mesa de bar, e atirou-se no sofá, de braços abertos. Chegou a roncar brevemente, antes de ser despertada por um miado abafado que soava junto ao tilintar do toque de seu smartphone. Sem dar importância ao segundo, Hope lançou à gata sphynx um olhar confuso ao vê-la saltar para o sofá com uma ratazana entre os dentes, a qual depositou ao lado de Hope e depois miou novamente, com mais intensidade. Um tanto enojada, Hope agarrou a criatura pelo rabo e a ergueu diante dos olhos.

– Obrigada, Ártemis, mas... hum... mamãe já jantou – ao dizer isso teve um sobressalto quando a ratazana se agitou, mostrando que estava viva e pronta lutar vigorosamente por sua liberdade. Hope a soltou imediatamente e a perdeu de vista quando esta correu na direção do banheiro. Ártemis não se deu ao trabalho de persegui-la e simplesmente se aconchegou ao lado de sua dona, enquanto Hope atendia à vídeo-chamada de Pixie, que não pretendia nada além de parabeniza-la por conseguir cumprir o prometido aos seguidores, concluindo todas aquelas tarefas em uma única noite, mas como sempre a fez bocejar quando sugeriu que fosse um pouco mais agradável com seus fãs... bem, com sims em geral, mas Hope nunca lhe ouvia e limitou-se a ignorar esta parte para direcionar-se à outra, vangloriando-se por seu feito. – Não é para qualquer um.

– De fato – disse Pixie do outro lado. – O que mais me surpreende é que tenha conseguido conciliar todas as organizações e terminar o trabalho de Narrativas e Memórias...

– Espera, o quê? – interrompeu Hope, espantada. Pixie calmamente lembrou-lhe de que o prazo para entregar o trabalho não passava daquela manhã, deixando Hope bastante nervosa, afinal não havia nem mesmo começado a escrever ou pesquisar, além disso não fazia planos de bombar no curso, mas estava cansada demais para até mesmo pensar em trabalhos, precisava de uma solução rápida, embora a ideia não lhe agradasse.

Comentários

  • malikabrazilmalikabrazil Posts: 7,297 Moderator
    Muito boa, continue! <3
  • pmattospmattos Posts: 4,389 Moderator
    Agora eu quero ver como ela vai conseguir terminar o trabalho... O.o

    Oh, @LolitaDoMal, obrigada por nos trazer mais uma de suas fabulosas histórias! Eu já tava morta de saudades!
    Claro que to com saudade da Alix e do Jack mas sei que vou amar aventuras de novos personagens!
  • LolitaDoMalLolitaDoMal Posts: 530 Member
    @malikabrazil e @pmattos muito obrigada, meninas!
    @pmattos aguenta aí que vc já descobre, tô terminando o segundo cap (essa não vou poder postar diariamente por motivo de estar tentando ser mais organizada kk).
  • LolitaDoMalLolitaDoMal Posts: 530 Member
    Capítulo 2

    – Isso tudo é muito interessante – começou Hope, extremamente desinteressada por aquilo que Pixie tinha a dizer sobre suas ações negativas e como deveria melhora-las; em vez de lhe ouvir, Hope se concentrava em tuitar, sem parar, a respeito de seu dia horrível –, mas será que podemos nos concentrar em resolver meus problemas reais?

    – Hope! – chamou Pixie, repreendedora. – Seu problema real é ter largado uma de suas amigas em um bar completamente bêbada e sozinha! – falou incrédula, e emendou críticas à forma como Hope se referia aos fãs, alegando que estava vendo comentários dos mais ofensivos em seus vídeos, não apenas direcionados a Hope, como também de fãs da vampira que imitavam seu comportamento e se direcionavam a outros fãs. Hope, no entanto, parou de digitar apenas por um segundo, a fim de revirar os olhos e bufar. – Se continuar deste jeito não vai apenas perder seus fãs e amigos, mas criar um mundo horrível – falou de forma um tanto dramática.

    – Oh, Pix! O mundo já é um lugar horrível e, acredite, não é por minha causa – falou com alguma impaciência.

    – Não, mas você não está ajudando a melhora-lo – rebateu aborrecida. – Aliás, não sei se depois desta noite lhe sobraram amigas além de Sara e eu, afinal Penny está muito brava e...

    – Bom, se ela não aguentava o desafio não deveria tê-lo aceitado – interrompeu Hope.

    – Hope! – chamou novamente, fazendo Hope soltar um grunhido aborrecido e finalmente dizer que faria algo a respeito, mas Pixie a conhecia bem o bastante para saber que estava mentindo e nem se esforçara tanto quanto o fazia quando se tratava de alguma pegadinha maldosa. Por fim, voltou a falar sobre seu horrível desempenho no curso e como destetava ter entregado um “crtl+c ctrl+v” para o professor quando se desesperou ao ver que não lhe sobrara muito tempo após simplesmente ter desmaiado de sono ao lado de sua gata. – Você o quê!? – indagou Pixie, chocada. Hope então prosseguiu contando como estava desgastada demais para prestar atenção na aula e acabou chamando a atenção do Sr. Fen que, segundo ele próprio disse, e Hope fez questão de repetir com algum orgulho, sabia que ela era uma excelente aluna e não permitiria que se afundasse daquela forma, portanto lhe dera uma segunda chance, aumentando o prazo de entrega do trabalho para a próxima noite e sugerindo que diminuísse suas atividades, afinal não pretendia dar segundas chances para sempre. – Ele está certo, sabia?

    – Argh! – fez Hope, aborrecida. – Não é possível que sua cabecinha genial não consegue pensar em uma solução melhor do que essa – falou enquanto continuava a tuitar.

    – Uau! Isso quase soou como um elogio – debochou Pixie. – Mas, não, não conheço alguma... sei lá, poção, que faça você se esforçar menos em múltiplas atividades e ainda conseguir excelente desempenho em todas elas. Parece que você terá que abandonar uma atividade ou postar um vídeo a menos por semana – Hope estava prestes a protestar quando a porta do apartamento de Pixie se abriu, revelando uma Penny furiosa.

    – Hope Langley – chamou, bufando como um touro enraivecido –, que ideia foi essa de...

    – Ah, Penny! Eu adoraria ter essa conversa com você – começou, com os olhos voltados para a tela do smartphone e o dedo indicador erguido, como quem pede silêncio –, mas eu acabei de receber um comentário muito interessante sobre...

    – Hope! – chamaram Pixie e Penny em uníssono. Bastante impaciente, Hope se esforçou porcamente para proferir uma desculpa qualquer, que jamais teria sido aceitada por qualquer sim que não tivesse traços amigáveis demais para relevar suas atitudes calhordas. Apesar disso, Penny não deixou de lembra-la de que se sentia cada dia menos tolerante para com suas ações, mas Hope não lhe deu ouvidos e voltou a se concentrar no smartphone, afinal alguém lhe oferecia alguma solução milagrosa para seus problemas.

    – Sério? – falou Penny, confusa e irritada. – Não é possível que, em todos esses anos na internet, você não saiba evitar esse tipo de golpe.

    – Não é golpe, não – defendeu Hope. – Um tal de @qwerty182768 está falando sobre uma lenda que diz que os alunos podem conseguir bênçãos para melhorar seu desempenho se oferecerem oferendas à estátua mais famosa de UBrite ou de Foxbury.

    – Essa não pode ser a melhor sugestão que você recebeu – falou Pixie, enquanto Penny tomava da mão de Hope seu precioso Smartphone a fim de investigar o tal usuário, comentando que lhe parecia tudo muito estranho.

    – Eu sei! – falou Hope, surpresa. – Tipo, como podem haver tantos idiotas com esse nome de usuário?! Enfim – continuou –, ele diz que a oferenda pode ser de itens raros como pedras preciosas e metais ou... – falou estendendo as vogais e olhando diretamente para Pixie, que não evitou olhar para trás de si a fim de desvendar se não havia alguém mais para quem Hope pudesse estar olhando. – Uma sobremesa deliciosa – completou.

    – Você não está merecendo minha ajuda, moça – falou Pixie, ao que Hope respondeu como uma criança mimada, implorando e repetindo “por favores”. Claro que prometeu mundos e fundos, mas nada daquilo que Pixie realmente desejaria que ela fizesse, até finalmente se render:

    – Oh! Está bem, veja, se essa maluquice realmente funcionar, terei mais tempo para trabalhar em me tornar uma pessoa melhor, uma vez que não estarei sobrecarregada de trabalhos e...

    – Você sabe que se der certo – interrompeu Penny, direcionando-se a Pixie –, ela só vai se afundar em novas atividades em vez disso, não sabe?

    – Vocês estão contra mim ou do meu lado, afinal? – reclamou Hope.

    – Independente disso e das promessas, Hope – começou Pixie, um tanto séria –, não acha que perder seu tempo com superstições só vai piorar
    seu desempenho? Aliás, se não funcionar você só terá menos tempo para terminar o trabalho.

    – Ora, vamos, eu sou literalmente uma vampira, quais as chances de algo sobrenatural realmente falhar nesse mundo? – Penny e Pixie trocaram olhares e evitaram comentários, por fim Pixie abriu o armário e começou a reunir os ingredientes para um bolo de frutas incrível. – Quais as chances de em vez disso eu perder desempenho, já que ninguém gosta de bolos de fruta?

    – Como assim “ninguém gosta”? – indagou Penny, incomodada. – Você disse que tinha adorado o bolo de frutas da minha avó quando o levei para sua casa no comitê de boas-vindas da vizinhança!

    – Que parte de “eu sou uma vampira” você ainda não entendeu, Penny? Eu literalmente vomito com uma mera garfada de macarrão com queijo – chocada, Penny perguntou como diabos ela podia dizer que o bolo era ruim então. – Eu não disse que é ruim, só que sims o detestam, afinal é isso o que dizem – inconformada, Penny continuou naquele assunto, inquirindo exatamente de que sims Hope ouvira tamanho disparate, enquanto ela respondia da forma mais vaga, sem tirar os olhos da tela do smartphone ou parar de digitar. Pixie, por sua vez, decidiu não diminuir as chances de Hope e, portanto, achou melhor fazer alguns cookies.

    Ansiosa para comprovar a lenda do tal usuário, apesar da desconfiança justificada de Penny para com a pessoa, que afinal parecia ter criado a conta naquele mesmo dia, Hope mal esperou terminar o crepúsculo para surgir a noite. Embora sua pele ardesse levemente diante dos últimos raios de sol, Hope caminhou até a estátua gigantesca de um livro, completamente coberto por pichações e papel higiênico, no centro do campus, e observou-a um tanto incerta sobre o que deveria fazer. Afinal, simplesmente largava aos pés da estátua sua oferenda, embrulhada no delicado lenço cor-de-rosa e decorado com figurinhas de corujas de Pixie, ou deveria dizer algumas palavras antes? Bem, para ter certeza de que a magia daria certo de fato, Hope proferiu seu melhor discurso de súplica, muito embora não se lembrasse de ter feito algo parecido antes, e ficou bastante orgulhosa do resultado. Após depositar o embrulho aos pés da estátua viu-o desaparecer misteriosamente, consumido por um breve brilho púrpura. Em seguida, sentiu-se envolvia por uma estranha energia que parecia revigorar seu espírito e preenche-la de uma clareza fenomenal que imediatamente lhe agraciou com inúmeras ideias criativas para novos vídeos, artes e, principalmente, para seu trabalho de Narrativas e Memórias.

    Sem perder tempo, Hope rumou para a galeria onde estava acontecendo o evento do Clube de Artes que ela não desejava perder em prol de seus deveres universitários, participou da construção de pelo menos três murais e depois voltou para seu apartamento no distrito do Mercado das Especiarias, sentou-se ao notebook e escreveu por cinco horas direto e só parou depois de reler seu trabalho duas vezes, antes de envia-lo, contente por tê-lo terminado antes do prazo. Sua energia e concentração eram tantas, que Hope foi capaz de editar vídeos e até gravar novos antes de fazer uma profunda pesquisa a respeito de gnomos para seu próximo debate. Tudo isso acompanhada por aquela mesma sensação mística, bem como uma estranha presença que parecia rodeá-la emitindo, vez ou outra, um leve farfalhar do que pareciam ser asas muito finas. Ártemis parecia bastante incomodada com o que quer que fosse o ser – ou seres – invisível que cercava sua dona, mas Hope não lhe deu importância. Ao fim de sua noite exaustiva, ela não se sentia nem um pouco cansada como antes, e decidiu que permaneceria acordada e faria algo produtivo com sua manhã, uma vez que os malditos raios de sol não podiam lhe castigar em sua pequena fortaleza.

    Antes disso, porém, ela decidiu recompensar-se com um banho de espuma e rumou para o banheiro, onde levou um susto tão grande, que brevemente se transformou em morcego e subiu até o teto, pois o rato que Ártemis lhe trouxera na noite anterior permanecera ali escondido desde então e decidira escapar pela porta bem quando Hope a abriu. Furiosa, Hope tratou de pegar o desentupidor de privada e correr pelo loft, perseguindo a criatura até que a mesma se escondeu em um buraco na parede, bem atrás de uma das latas de tinta que Hope deixara próxima ao mural no qual estava trabalhando. Gritando xingamentos de toda a sorte, Hope grudou o desentupidor no buraco e tentou, inutilmente, sugar o rato para fora, enquanto Ártemis limitava-se a assistir, com desprezo, ao fracasso de sua dona. Foi então que a porta da frente se abriu, atraindo a atenção das duas e revelando uma figura encapuzada e vestida em um longo robe escuro. Valente, Ártemis saltou para o chão e chiou para a criatura, enquanto Hope a observava, assustada, abraçada com o desentupidor e completamente alheia ao rato, que aproveitou a oportunidade para sair sorrateiramente do buraco para se esconder em outro canto. A figura ergueu a cabeça, exibindo a máscara que lhe cobria o rosto, e avançou em direção à Hope.

    – Nós – disse, embora aparentemente estivesse sozinha – lhe visitamos em nome daqueles que apreciaram muito sua generosa oferenda – confusa, Hope olhou ao redor e não disse coisa alguma, simplesmente recuou um passo quando a figura estava bastante próxima. – Se seu coração é puro, lhe convidamos para se juntar a nós e aprender nossos segredos – concluiu e pôs-se a esperar pela resposta de Hope.
  • malikabrazilmalikabrazil Posts: 7,297 Moderator
    Opa, gostei do segundo capítulo! Já quero mais de novo haha
  • pmattospmattos Posts: 4,389 Moderator
    E esse foi mais um capítulo eletrizante! Sempre terminando deixando a gente querendo mais!!!! Ah volta logo!!! <3
  • LolitaDoMalLolitaDoMal Posts: 530 Member
    @malikabrazil e @pmattos desculpa a demora e espero que estejam prontas para o...

    Capítulo 3

    Hope não tinha muita certeza se seu coração era realmente puro, mas isso não a impediu de receber um traje como o da figura misteriosa, bem como uma máscara. E lá estava ela, na noite seguinte, em um círculo ritualístico repleto de tipos estranhos de cogumelos coloridos que rodeavam uma pedra na qual outras duas pessoas, vestidas como ela e a figura, depositavam oferendas de pedras preciosas, sementes e doces que desapareciam da mesma forma como acontecera com sua oferta à estátua. Hope não fazia ideia do que estava acontecendo, afinal ninguém se preocupou em explicar o que esperavam dela como novo membro daquela organização misteriosa. Bem, ela tampouco se preocupara em perguntar, portanto podia dizer que estavam empatados. A única coisa que ficou bastante clara depois daquele estranho encontro, logo após a tal figura ter-lhe assoprado pós brilhantes no rosto, fazendo suas roupas se transformarem momentaneamente em robes, foi o aviso de sigilo, afinal a ordem era extremamente secreta e Hope não deveria compartilhar seus segredos com absolutamente ninguém. Isso, no entanto, não lhe impediu de levar Glyph consigo e escondê-lo atrás de arbustos para que não fosse notado enquanto gravava toda a cerimónia.

    Era de fato um grupo seleto, somente três sims além de Hope: um rapaz barbudo cujos robes estavam desgastados e maltrapilhos; uma garota com sotaque russo e cabelo colorido cujas mechas escorriam para fora do capuz; e por fim aquela que a recrutara, muito mandona e um tanto desconfiada, como Hope percebeu logo de cara. Ninguém quis informar à Hope seus nomes, portanto, ela não apenas os seguiu, recusando-se a contar o seu, como também decidiu nomeá-los com apelidos, mas estes ela decidiria mais tarde, quando não estivesse mais interessada em concluiu a cerimonia de recrutamento e descobrir o segredo da Ordem do Encanto. Esperava que não envolvesse algo como beber o sangue de alguma criatura nefasta, afinal não apenas era bastante seletiva com suas presas como também já havia se alimentado.

    – Aproxime-se, novata – disse aquela que lhe recrutara, quem Hope apelidou de Chefe. – Traga sua oferenda e permita que nossos amigos decidam se é digna ou não de participar de nossa ordem – um tanto confusa, Hope se aproximou do centro com um punhado de cookies que Pixie lhe dera no início daquela noite, quando também deixara bem clara sua preocupação com aquele compromisso secreto do qual Hope não podia falar, mas afinal Pixie sempre lhe parecia preocupada com tudo. Bem, diante da pedra, Hope se direcionou aos outros dois membros do grupo, muito embora a Chefe parecesse se referir a alguém mais quando falara em “amigos”.

    – Para... quem... – começou confusa, e viu a Chefe apontar para a pedra. – A pedra?! – indagou perturbada, perguntando-se se de fato veneravam a pedra que sugava misteriosamente suas oferendas. Hope não pôde deixar de sentir uma enorme decepção, mas obedeceu e viu os cookies desaparecerem misteriosamente e quase de imediato. Então estremeceu ao sentir a mão da Chefe tocar seu ombro enquanto ela falava com sua voz vibrante, perguntando a algo invisível se Hope era digna, se eles continuariam a abençoa-la e se estavam dispostos a confiar nela.

    Apreensiva, Hope olhou ao redor e perguntou-se o que deveria ver e para onde deveria direcionar seu olhar. Foi então que começaram a surgir criaturinhas coloridas por toda a parte, voando ao redor dos membros da organização com suas asinhas finas e frágeis. Não pareciam lá tão amigáveis quanto sugerira a Chefe, pelo menos não com Hope, a quem beliscavam vez ou outra, tratamento que não direcionavam aos outros membros, ao redor dos quais voavam espalhando seu brilho e alegrando-os. Foi o barbudo quem se dispôs a explicar que os sprites podiam ser agressivos quando não estivessem sendo entretidos e, portanto, Hope precisava agradá-los se realmente desejasse suas graças. Nem de longe lhe pareceu um bom negócio, mas o rapaz lhe assegurou de que ela notaria a diferença e, uma vez abençoada, sua vida jamais seria a mesma se abandonasse a ordem. O comentário lhe pareceu levemente ameaçador, mas Hope não se importou, nem lhe deu muita atenção quando falou sobre aquilo que agradava as criaturas, na verdade, foi embora mais cedo, pois precisava preparar uma apresentação e esperava que as criaturinhas realmente se mostrassem úteis, caso contrário pretendia se livrar delas o quanto antes, afinal seus beliscões se tornavam cada vez mais desagradáveis.

    Para a decepção de Hope, os sprites foram a pior coisa que lhe acontecera desde que inventaram aqueles planos de ação da vizinhança, pois não aguentava mais ver pessoas com sacos de papel na cabeça todas as vezes em que visitava Evergreen Harbor. As criaturinhas, não contentes em lhe dar beliscões e puxar as mechas longas de seu cabelo loiro, também roubavam folhas do quadro no qual trabalhava, rasgavam suas anotações e tomavam seus pinceis para arruinar seu mural em progresso. Hope estava grata por Ártemis impor sua dominância com chiados ameaçadores o bastante para ao menos mantê-los longe, mas estava a ponto de surtar quando teve sua atenção desviada para pesadas batidas na porta. Hope não ouvira as batidas anteriores e não teria ouvido essas não fosse pela transição das músicas altas que soavam de suas caixas de som. Com um olhar furioso, Hope abriu a porta e deu de cara com Raj Rasoya, que lhe devolvia o mesmo olhar e já começou seu discurso furioso com o dedo indicador no rosto de Hope. Reclamava da música alta, mas Hope não lhe deu ouvidos. Não gostava de sua atitude e estava aborrecida demais para lhe dar atenção. Na verdade, como temia que seu tormento fosse maior se descontasse sua fúria nos sprites, descontou-a em Raj.

    Em um estalar de dedos, o homem parou de gritar e começou a girar em torno de si mesmo, atraindo os sprites, que começaram a brilhar levemente ao redor de Hope, que teve até mesmo a impressão de ouvir baixas risadinhas. Decidida a testa-los, Hope comandou Raj a entrar e virar uma lata de tinta inteira na própria cabeça, e notou que os sprites começaram a exibir uma inspiradora aura azul que a fez sentir mais leve e criativa, diferente da tensão que estava sentido segundos atrás. Satisfeita com a alegria de suas criaturinhas, Hope comandou Raj a limpar a bagunça que os sprites fizeram antes, enquanto ela voltava a se concentrar na apresentação, muito mais revigorada e disposta. Não negaria que estava muito contente com a forma com a qual podia agradar aquelas criaturas, parecia a ela o início de uma bela parceria.
  • malikabrazilmalikabrazil Posts: 7,297 Moderator
    Curiosa pra saber onde a parceria vai levar! :D
  • LolitaDoMalLolitaDoMal Posts: 530 Member
    @malikabrazil descubra no próximo capítulo... ou não :P

    Capítulo 4

    – Só para ter certeza – começou Hope, um tanto apreensiva enquanto olhava misteriosamente ao seu redor, observada pelos olhares preocupados de Pixie e Sarajane Oliver –, vocês realmente não veem... hum... insetos... gigantes... voando ao meu redor?

    – Pela terceira vez, não, não vemos – respondeu Pixie. – Está me deixando aflita, Hope – acrescentou, e procurou distrair-se lavando a louça.

    Os sprites conservavam sua aura azul e voavam serenamente ao redor de Hope, envolvendo-a com a inspiração que emanava deles com o farfalhar de suas asas. Ela havia assistido ao vídeo gravado por Glyph na noite da cerimônia, mas não era possível ver uma criaturinha sequer neste. Perguntava-se se eles realmente existiam ou se aqueles cogumelos e plantas ao redor do altar expeliam algum pólen alucinógeno de efeito duradouro. Talvez estivesse permanentemente louca depois daquele encontro. As criaturas de fato lhe concediam bênçãos e amenizavam suas necessidades ou tudo não passava de sua imaginação? De qualquer forma, não estava disposta a quebrar o sigilo e contar a suas amigas o que se passava, portanto, limitara-se a falar dos acontecimentos daquela noite da forma mais vaga possível.

    – Tudo bem se não pode nos contar que criaturas são essas – começou Pixie, sem tirar os olhos da pia –, mas se se alegram com maldades não podem ser coisa boa.

    – Será mesmo? – contestou Sara. – Talvez essa não seja a única coisa que as alegra, apenas a única que você descobriu.

    – Pft! Me parece bom o bastante, se quer saber – falou Hope, desinteressada e digitando freneticamente em seu smartphone. – Não são bem maldades, não seja exagerada – falou para Pixie, que preferiu não discutir aquele assunto em específico.

    – Seja como for, ao menos procure saber mais a respeito disso no que se meteu – disse Pixie, sem esconder seu aborrecimento, mas Hope retrucou que tinha coisas mais importantes para fazer no momento. Não pretendia deixar de comparecer às reuniões, no entanto, pois percebera que somente entreter as criaturas não era o suficiente, uma vez que estas não abriam mão de sua demanda por doces e preciosidades. – Olha, sou eu quem as alimenta – falou Pixie, apesar de Hope não lhe ter contado a parte das oferendas. Afinal por qual outro motivo ela teria pedido que fizesse mais doces? Hope desviou sua atenção para a amiga logo que ela tomou o embrulho com brownies e lhe lançou um olhar ameaçador. – Sendo assim, quero saber que meus doces não estão indo para alguma causa maldosa.

    – Oh, não, não me faça comprar doces na barraca do campus, as criaturas são seletivas e ficarão aborrecidas se eu lhes der doces de má qualidade – falou enquanto tentava recuperar o embrulho da mão de Pixie, mas sem fazer muito esforço.

    – Desde quando chocolate é considerado um doce? – questionou Sara, distraindo Pixie o bastante para que Hope arrancasse o embrulho dela e o mantivesse a uma distância segura.

    – Chocolate é um doce, sim – rebateu Pixie, quase ofendida com a pergunta.

    – Chocolate é chocolate, não existe outra categoria em que se encaixe – argumentou, agravando o olhar chocado de Pixie, mas antes que esta pudesse retrucar, Sara se direcionou à Hope. – Por que diabos não investigaria a organização? Talvez estejam dispostos a lhe contar tudo a respeito a fim de incluí-la; você é um membro, afinal. Além disso, se preferirem esconder seus segredos, então você terá uma investigação pela frente – ao dizer isso atraiu imediatamente o olhar interessado de Hope. Se ela não usasse óculos escuros, Sara tinha certeza de que poderia ter visto seus olhos vermelhos brilharem. – Aposto que seus seguidores adorariam acompanhar mais um caso a ser solucionado por Hope Langley.

    – Não diga mais nada, minha cara Sara – falou dramaticamente. – Investigarei esta organização a fundo e, se não encontrar coisa alguma, quem sabe eu mesma não crio algum mistério para eles – falou decidida e voou com seu embrulho em direção à porta, ignorando Sara, que dizia que não era bem isso o que estava sugerindo. Ela atraiu um olhar um tanto reprovador de Pixie.

    – Que foi? Pelo menos agora ela vai procurar saber em que se meteu – argumentou, fazendo Pixie revirar os olhos.

    Destemida, Hope avançou para dentro do círculo de plantas e cogumelos, tendo suas roupas imediatamente alteradas magicamente para o robe e a máscara da ordem. Observava alternadamente os membros, tentando decidir quem deles seria o mais propenso a falar sobre segredos profundos da organização. Claro que o barbudo esteve bastante disposto a lhe contar sobre as coisas que Hope precisava saber, mas estaria igualmente disposto a contar aquilo que não deveria saber? De qualquer forma, a Chefe parecia desconfiada demais, de modo que Hope não arriscaria levantar suspeitas sobre seu interesse ao perguntar a ela. Quanto à outra, esta lhe parecia hostil demais. Na verdade, naquela noite ela se esforçou tanto para ser desagradável com Hope, que por um instante ela até repensou suas próprias atitudes, mas foi um instante muito breve que logo foi alterado para um desejo urgente de se vingar daquela Praga. No entanto, Hope não estava disposta a usar seus poderes durante o encontro, pois não desejava ser expulsa da ordem.

    – Ei, Diógenes – chamou referindo-se ao barbudo maltrapilho que se ocupava em regar as plantas e conversar com elas. Ao ouvir o chamado ficou um tanto confuso e olhou para os lados, até que finalmente se deu conta de que Hope falava com ele. – Parece que você esqueceu de me contar algumas coisas sobre essas criaturinhas nefastas – falou Hope, soando um tanto aborrecida. Diógenes limitou-se a rir, não parecia inclinado a argumentar que afinal fora ela quem decidira não ouvir.

    – Nefastos são os homens – disse ele –, as criaturas só gostam de lhes observar; quem decide as ações que tomam são aqueles a quem os sprites seguem.

    Após essa introdução, Diógenes pôs-se a explicar que havia ações positivas que agradavam os sprites, aliás, se Hope não estava disposta a entretê-los o tempo todo poderia agradá-los simplesmente cuidado do jardim que crescia ao redor do altar. Claro que ela não estava disposta a fazê-lo, afinal a única planta que cultivara perfeitamente era sua planta de fruto de plasma, mas esta não precisava nem do sol, nem de água, o que, pensando bem, lhe parecia um tanto estranho, mas por que diabos ela questionaria uma planta mágica cujo fruto substitui o plasma humano? Enfim, quando questionado sobre a constante necessidade de agradar os sprites, Diógenes pareceu bastante relutante e só cuspiu o que tinha em mente depois de muita insistência. Começou falando sobre um tal primeiro amigo humano dos sprites que teria maltratado as criaturas há muito tempo atrás, destruindo sua confiança nos humanos. Desde então a ordem tentava reestabelecer essa confiança, mas os sprites estavam cada vez mais entediados e sedentos por entretenimento e oferendas. Diógenes pareceu prestes a compartilhar sua maior preocupação, mas a Chefe se aproximou deles, com seu olhar desconfiado, comentando algo vago sobre a noite, e subitamente Diógenes engoliu o que tinha a dizer e voltou a cuidar das plantas.

    Hope bem que tentou extrair alguma coisa das outras duas, uma vez que Diógenes estava decidido a ignora-la, mas a Praga lhe deixou tão aborrecida que ela achou melhor ir até a biblioteca e tentar encontrar alguma informação na máquina de pesquisa que os estudantes deveriam usar para se preparar para debates. Passou grande parte da noite pesquisando cada vez mais fundo na misteriosa máquina que sugava os conhecimentos daqueles dispostos a compartilha-los, e acabou deixando alguns de seus deveres de lado. Não importava, afinal teria tempo para fazê-los de dia, em casa, desde que mantivesse os sprites alegres o bastante para consumirem seu cansaço ou fosse lá o que faziam as criaturas. Esteva a ponto de desistir, quando finalmente encontrou alguma coisa sobre o misterioso desaparecimento de uma botânica chamada Esther Mudget.
  • malikabrazilmalikabrazil Posts: 7,297 Moderator
    Agora quero saber sobre o desaparecimento kkkkk
  • pmattospmattos Posts: 4,389 Moderator
    Eita que Hope encontrou criaturas que se divertem com suas "malvadezas" aheuaheuaheuahuehauheuaheuaheuahe, certamente ela vai tirar proveito dessa parceria!

    Mds, eu encontrei alguém que pensa como eu sobre chocolate, é ÓBVIO que chocolate não é doce, chocolate sempre foi chocolate.

    Uma botânica desaparecida e cogumelos brilhantes em volta do altar, será que tem alguma relação? :hushed:
  • So94So94 Posts: 371 Member
    Olá a todas não tenho tido muito tempo 😔 consegui ler agora a totalidade e adorei o segundo capítulo. O nome hope é fantástico .. ainda bem que alguém se diverte com as malvadezas dela ahahah. Botânica desaparecida? Vou esperar para ler a continuação .
  • priscamelo77priscamelo77 Posts: 179 Member
    Obaaa! Mais uma ótima história pra acompanhar 🎊🎊🎊
    A Alix que não me escute, mas a Hope já conquistou meu 💙
  • LolitaDoMalLolitaDoMal Posts: 530 Member
    @malikabrazil até eu quero saber, mas essa escritora custa a postar... Kkk

    @pmattos bom saber que a Sara não está sozinha nessa kk

    @So94 que bom que gostou do nome, dps que percebi que lembra o nome de alguém aqui dos legados do fórum kkk espero que arrume tempo pra atualizar seu legado, tô morrendo de saudades dos Cortes *---*

    @priscamelo77 kkkk que bom que ela conseguiu te conquistar mesmo sendo péssima kk

    (Gente eu não esqueci da história, meu pc estava me sabotando, mas acho que consegui resolver os pss dele)
  • LolitaDoMalLolitaDoMal Posts: 530 Member
    editado outubro 2020
    Capítulo 5

    Glyph flutuava diante de Hope Langley enquanto ela contava aos seus espectadores a curiosa história da botânica cujas pesquisas à cerca de padrões de polinização em cogumelos selvagens levaram a Gibbs Hill, onde encontrou uma curiosa formação de fungos em espiral, atrás das ruínas do castelo. Fascinada com o fenômeno, Esther Mudget passava a maior parte de seu tempo no lugar em especial, estudando, até que em uma tarde de primavera ela teve um encontro inesperado. Acontece que seus generosos vizinhos a presentearam com um bolo de frutas e, como estudar sempre lhe dava muita fome, Esther levou consigo uma fatia do bolo, que deixou sobre uma pedra antes de começar a trabalhar. Foi então que começou a ouvir estranhos assobios desumanos cuja natureza deixou Esther bastante tensa e, a fim de dissipar a tensão, ela contou uma piada boba. Para sua surpresa, as criaturinhas que a cercavam gostaram da piada, bem como do bolo, e transmitiram a ela suas bênçãos e conhecimentos sobre o universo, dando início a uma amizade que terminaria tragicamente.

    – Tragicamente, pois sim – reforçou Hope, fazendo mistério, e pôs-se a contar o restante da história:

    No segundo ano da Ordem do Encanto, a fundadora estava dando uma palestra em um leilão beneficente, quando de repente, deixando a plateia completamente atônita, Esther saiu correndo do palco, aos berros, e perdeu-se na imensidão da floresta, onde desapareceu para sempre. Mais tarde soube-se, na Ordem, que a fundadora havia privado os sprites de seu tão necessário açúcar, bem como dos entretenimentos que demandavam, enquanto continuava a disfrutar dos benefícios sociais e acadêmicos proporcionados pelos sprites. Sua ignorância e cobiça levaram Esther a sua queda trágica, e hoje sua história serve de lembrete para que outros não sigam seus passos, mas respeitem e cuidem dos sprites para não sofrerem com sua terrível fúria.

    – Lendas dizem que Esther ainda vaga pela floresta – disse Hope, com a voz intensa, gesticulando para enfatizar seu mistério –, com os cabelos desgrenhados e nenhum pente por perto, perseguindo luzes errantes – disse em tom de conclusão, mas não demorou a adicionar: – Existe toda a sorte de mitos sobre seu destino, mas apenas um deles é o verdadeiro: aquele que eu descobrirei muito em breve com a ajuda de vocês, meus ratinhos empestados – falou, muito embora não estivesse disposta a ouvir as sugestões de seus espectadores.

    O mormaço do dia se estendia para aquela noite de verão, intensificado, por alguma razão mística, pelo canto estridente das cigarras agarradas aos troncos altos da floresta de Granite Falls, onde Hope procurava por pistas quanto ao paradeiro de Esther Mudget. Não que realmente acreditasse que a encontraria viva depois de tantos anos, mas pelo menos uma explicação menos fantasiosa sobre seu destino, uma vez que seus colegas de ordem estavam visivelmente incomodados com suas perguntas à cerca da fundadora. Tudo o que lhe disseram era que seu dever era proteger os sprites para que ninguém mais lhes maltratasse. Aviso que Hope só entendeu completamente por conhecer a história de Esther, afinal seria incapaz de compreender o motivo para tanta obsessão com o bem-estar das criaturas. No entanto, não podia deixar de se perguntar se toda a preocupação se direcionava ao medo de terem o mesmo destino de Esther ou se realmente prezavam pela segurança dos sprites.

    De todo modo, Hope não tinha muito por onde começar e, portanto, decidiu que não perderia tempo vasculhando o chão atrás de pegadas e vestígios da mulher, mas perguntaria aos cidadãos locais se possuíam o menor resquício de informação que fosse sobre Esther. No início, Hope não se deparou com mais do que alguns turistas que passavam férias se contentando em serem carregados por mosquitos na floresta, alegria que Hope, que vez ou outra dava tapas em si mesma a fim de aniquilar estes insetos, jamais entenderia. Nenhum dos turistas sabia patavina daquela história e nem mesmo ouviram falar no nome de Esther, de modo que sua única esperança parecia ser um grupo de jovens que viu ao longe, iluminados por uma fogueira cujas chamas pareciam perigosamente altas, muito embora um dos jovens continuasse a adicionar lenha a ela.

    Hope se aproximou fazendo um estardalhaço ao apresentar o grupo às inúmeras pessoas que lhe assistiam. A mulher que estava tocando violão parou abruptamente, causando um ruído na corda; aqueles que conversavam pararam e olharam confusos, alguns constrangidos, para Hope; e o homem que atirava lenhas ao fogo errou a mira e deixou a lenha cair em seu próprio pé, o que o fez saltitar dolorosamente ao redor do fogo, ocasionando uma dança que muito divertiu os sprites que sobrevoavam ao redor de Hope. Sem dar tempo para que o grupo se recuperasse da confusão, Hope começou a perguntar-lhes sobre seu acampamento e como andavam suas férias, e ficou feliz ao descobrir que aquelas pessoas moravam ali há alguns anos. Satisfeita, ela não perdeu tempo e perguntou sobre Esther Mudget, mas Kyle, um homem de cabelos ruivos e muito bagunçados, assumiu a liderança do grupo e disse a Hope que não deveria invadir reuniões daquela forma, bem como não estava interessado em saber quantos seguidores ela tinha.

    Foi então que Eric, que se recuperava da dor no pé, interveio e disse que, apesar da intromissão de Hope, eles de fato podiam ajuda-la. Não que soubessem quem diabos era a tal mulher de quem Hope falara – nem lembravam mais do nome, para ser exata –, mas conheciam alguém que vivia ali há tantos anos quanto existem sepulturas da família Goth. No entanto, não estavam dispostos a compartilharem seu contato com Hope a menos que ela lhes alegrasse de alguma forma. Hope, um tanto irritada, olhou ao seu redor, vislumbrando os sprites e se perguntando se se deparara com suas versões humanas, mas não perdeu tempo e estava prestes a hipnotizar um deles para que alegrasse os outros agindo como ****, quando Kyle a interrompeu ao dizer que não seria justo fazer algo do tipo, uma vez que a pessoa hipnotizada não ficaria alegre. Ela bem que pretendia argumentar que não precisava fazê-los felizes simultaneamente e poderia hipnotizar outro depois, a fim de satisfazer o que sobrara, mas não o fez, pois imediatamente sentiu dor de cabeça ao se lembrar de suas discussões com Pixie. Por sorte Eric sugeriu uma piada.

    – Piada? – indagou Hope, pensativa, afinal não possuía muitas piadas em seu repertório. Foi então que surgiu em sua mente uma que ouvira de sua sire, e Hope se apressou em dizer: – Vocês sabem qual é a bebida favorita dos vampiros? – todos trocaram olhares e pensaram um pouco, mas desistiram e deixaram que Hope respondesse: – Drá-cola! – Houve um desconcertante segundo de silêncio mortal antes de todos caírem na gargalhada por alguma razão que Hope desconhecia, afinal tinha consciência de que a piada era horrível. Não apenas o grupo, mas os sprites ao redor de Hope pareciam também muito alegres com essa, bem como sugerira o relato sobre Esther.

    Logo que os jovens se recompuseram, um deles ficou feliz em dar a Hope o nome de Emmett Dingwall, um velho que costumava passar a maior parte de seu tempo em uma cabana não muito longe dali. Diziam que ele conhecia cada uma das lendas do lugar e ficaria feliz em falar com Hope, afinal não eram muitas as pessoas interessadas em ouvir as histórias que ele tanto desejava contar. Sem se preocupar com agradecimentos, Hope rumou para a cabana, na qual entrou sem bater e novamente fazendo um estardalhaço. Para sua decepção, lá dentro não havia muito mais do que aquários e mais aquários repletos de todo o tipo de insetos que se pode imaginar e, por um bom tempo, Hope acabou se distraindo observando os padrões curiosos das asas das borboletas e a forma como os grilos roçavam suas pernas, até que uma voz rouca falou algo incompreensível as suas costas e fez Hope dar um salto quase até o teto. Era um velho que se ocupava em dar bengaladas em Glyph, ordenando que o drone explicasse sua invasão, ignorando completamente a presença de Hope, que tratou de defender seu companheiro eletrônico, perguntando quem diabos o velho pensava que era para agredir seu drone.

    – Eu sou Emmett Dingwall – disse imponente, enquanto balançava a bengala ameaçadoramente na direção de Hope –, eu presenciei a evolução deste mundo – clamou –, vi cercas serem construídas ao redor de sims e os matarem de fome, vi escadas desaparecerem misteriosamente de piscinas com sims fatigados, eu vi pessoas saírem de seus lotes pela primeira vez para fazerem compras, bem como presenciei o caos de um mundo aberto onde tudo acontecia ao mesmo tempo e não se precisava passar por uma tela de carregamento quando queríamos viajar de um lote a outro – Hope olhou para a câmera, confusa e assustada com aquele velho que falava tamanhas sandices –, e você! Quem você pensa que é para invadir meu santuário com esta terrível criatura feita de metal e circuitos?!

    – Sou Hope Langley, e espero que o senhor esteja pronto para me contar tudo o que sabe sobre Esther Mudget – disse confiante, decidindo não rivalizar o homem, uma vez que não pretendia ter que pagar novamente por informações. Por um instante Emmett olhou-lhe desconfiado, mas não demorou muito para se render a Glyph, sentar à mesa de xadrez e convidar Hope para uma partida enquanto contava a ela uma de suas mais fantásticas histórias, prometendo apresentar-lhe uma prova muito importante sobre o contato que teve com Esther, no formato de um objeto muito intrigante.
    Post edited by LolitaDoMal on
  • malikabrazilmalikabrazil Posts: 7,297 Moderator
    Estou intrigada com o tal objeto intrigante. O que será?
  • pmattospmattos Posts: 4,389 Moderator
    Eu to tal qual Malika! Huaheuaheuaheuaheuaheuahe preciso saber sobre Esther e desse objeto intrigante!
  • LolitaDoMalLolitaDoMal Posts: 530 Member
    @malikabrazil e @pmattos descubram agora no...

    Capítulo 6

    O movimento constante dos polegares de Hope subitamente parou quando ela lançou a Pixie um olhar intrigado – ainda com os dedos posicionados para continuar a digitar no smartphone –, como se esperasse por algo, provavelmente por uma repreensão, após ter contado à amiga como conseguira aquele estranho baú em miniatura, todo ornamentado com hieróglifos e imagens que Hope não sabia exatamente de que civilização faziam parte, não que parecesse de uma existente, embora parecesse antigo. Acontece que, tão logo o simpático Emmett Dingwall, como mostrou ser após quase uma hora de conversa e xadrez, trouxe à tona aquele pequeno artefato pertencente à Esther Mudget, que o perdeu pouco antes de novamente desaparecer da vista de Emmett – que aliás contava que a mulher sofria de mania de perseguição e não fazia o menor sentido em suas palavras –, Hope não demorou em hipnotizar o velho e roubar o objeto para si, fugindo descaradamente sob os aplausos de seus espectadores.

    – Você sabe – começou Hope, um tanto desconfortável, muito embora Pixie não parecesse lhe dar muita atenção, pois se concentrava em segurar a batedeira para que ela não saísse andando pelo balcão da cozinha e se atirasse deliberadamente no chão, como acontecera no dia anterior –, o objeto está melhor comigo do que em um armário cheio de traças.

    – Bom para você – murmurou Pixie, desinteressada. Hope continuou a observa-la com curiosidade por alguns segundos antes de voltar a falar.

    – Essa psicologia reversa não vai funcionar – disse por fim, inquieta.

    – Do que diabos está falando? – perguntou Pixie, finalmente a fitando e quase deixando que a batedeira saltasse para longe de suas mãos.

    – Dessa coisa de ignorar o que eu fiz com o velho – disse após bufar, um tanto aborrecida, sentindo que os sprites a sua volta agiam de forma um tanto irritante, pois desde então Hope não fizera muito para agradá-los.

    – Você sabe muito bem o que eu penso disso, Hope – falou Pixie, incomodada. – Não faz sentido ficar me repetindo. Além disso, você mesma sabe das coisas erradas que faz sem que eu precise lembra-la. Se não fosse o caso, não estaria perdendo tempo com esse assunto e já teria me dito o motivo para estar me contando isso. Não sou sua psicóloga e sei que quer algo – acrescentou aborrecida. Hope bufou novamente e voltou a digitar no smartphone antes de finalmente dizer que precisava que Sara analisasse o objeto para tentar abri-lo ou descobrir sua origem. Para a sorte de Hope, Sara não demoraria a chegar, entretanto, Pixie a deixou inquieta ao dizer que confiava nela o bastante para não acreditar que estivesse disposta a colocar Sara em perigo por causa de suas investigações.

    – Claro que não – disse Hope. – É só uma caixinha de joias, não lhe fará mal algum – Pixie, no entanto, se referia aos próximos passos de sua investigação e, nesse caso, Hope preferiu ignora-la para continuar com sua digitação inquieta.

    Não demorou para que Sara chegasse em casa e, muito interessada no artefato, começasse a analisa-lo minuciosamente, no entanto, aqueles hieróglifos, apesar de vagamente familiares, não atiçavam sua memória para nenhuma civilização que já houvesse estudado, bem como a ornamentação do pequeno baú não parecia pertencer a qualquer povo que conhecesse; na verdade, retratavam criaturas estranhas cuja descrição Sara jamais ouvira falar. Hope, após observar os desenhos com mais cuidado, notou que se pareciam com os sprites e, distraidamente, mencionou isto a Sara, que imediatamente se tornou mais interessada ainda com o objeto e sugeriu leva-lo ao museu para analisa-lo melhor com seus colegas. Pixie não pareceu lá muito satisfeita, mas não disse coisa alguma, enquanto Hope concordou em deixar a caixinha com Sara, contentando-se em tirar algumas fotos do artefato antes, pois planejava inquirir seus colegas de Ordem à cerca do objeto. Antes de ir embora, porém, sugeriu que Sara ao menos tentasse arrombar a pequena fechadura antes de leva-lo, de modo que as duas perderam mais alguns minutos revirando o objeto para todos os lados possíveis, mas foram incapazes de encontrar uma forma de abrir o baú, pois a fechadura requeria uma chave específica com um formato um tanto inusitado.

    Dali, Hope seguiu para a reunião do Clube de Debate e chegou bastante atrasada, o que deixou seu adversário muito irritado, mas não o bastante para perder a compostura e ser derrotado facilmente por Hope. Esta estava tão distraída com seu caso que mal se empenhou em defender seus argumentos e acabou perdendo o debate. Não que parecesse se importar com isso, como demonstrou com sua pressa para escapar do lugar e se encontrar com os membros da Ordem, ignorando a fúria dos sprites, que lhe beliscavam a pele ao reivindicar seu tão precioso entretenimento. Hope digitava freneticamente em seu smartphone e ocasionalmente abanava uma das mãos ao redor de sua cabeça para afastar os sprites, movimento que despertou o interesse de Becca, que ao se aproximar quase acabou estapeada e ficou bastante assustada ao constatar que Hope esteve a ponto de se desculpar por quase agredi-la, mas em vez disso a vampira lhe perguntou o motivo para se meter em seu caminho.

    Não que Becca não estivesse curiosa sobre os movimentos de Hope, afinal não havia mosquitos ou criaturas semelhantes por perto, mas, considerando que Hope não era a pessoa mais sã que conhecia, ela ignorou esta parte para perguntar sobre o desempenho de sua companheira de organização. Hope lançou a ela um olhar desconfiado antes de simplesmente responder que não estava com cabeça para o debate, pois tinha um compromisso, e acrescentou que Becca não estava ajudando ao fazê-la se atrasar ainda mais. Dito isso, transformou-se em morcego e voou para longe do Derby’s Den, rumando para as ruínas do castelo, onde encontraria seus colegas vestidos em robes e capuzes. Diógenes continuava a ignora-la com comentários vagos e desculpas para se afastar e continuar a tratar de seus sprites, portanto Hope direcionou sua atenção à Praga, visto que a Chefe não estava por perto, bem como parecia ser a menos propensa a fornecer informações avançadas sobre a ordem.

    – O que você quer com isso? – indagou Praga, muito desconfiada e sem dar muita atenção à foto do artefato que Hope lhe mostrava em seu smartphone. – Não acha que já nos causou problemas o bastante?

    – Como assim? – perguntou Hope, legitimamente confusa. – Sei que meus sprites não estão muito felizes no momento, mas... – Praga interrompeu abanando a mão com impaciência.

    – Pouco me importa como trata suas criaturas, elas sabem se cuidar e, na verdade, tenho pena de você se continuar a ignora-las – falou embora não parecesse realmente preocupada. – Seu desespero por atenção está atraindo atenção indesejada para nós – disse, mas se recusou a explicar, dizendo que a Chefe desejaria falar com Hope a respeito. Quanto ao artefato, Praga limitou-se a dizer que não sabia coisa alguma sobre ele, embora não parecesse muito confiável, e acrescentou um aviso para que Hope não se metesse com aquelas coisas, parecendo bastante ameaçadora.

    Bem como sugeriu Praga, a Chefe não só desejava falar com Hope, como também estava furiosa por causa de sua live. Acontece que seus seguidores estavam se espalhando por toda Gibbs Hill esperando encontrar o lugar mencionado por ela no vídeo ou ela própria. A Chefe contava que passou a tarde inteira criando artifícios para mantê-los longe do altar, e felizmente naquele momento Pepper estava muito satisfeito pelos novos clientes em seu bar, não muito longe dali. A Chefe praticamente intimou Hope a dispersar seus fãs de lá e da cidade, pois pretendia puni-la severamente caso não o fizesse. Descarada, Hope a irritou ainda mais ao sugerir que na verdade recebesse uma recompensa – na forma de informações – por expulsa-los, mas tudo o que ganhou foi um berro furioso mandando-lhe resolver a situação o mais depressa possível, e assim Hope voou até o Pepper’s Pub imediatamente para distribuir autógrafos, fotos e até compartilhar algumas piadas que muito alegraram seus sprites bem como os fãs, depois pôs nas mentes deles a ideia de que o lugar era muito perigoso e que não deveria ser visitado, assim fazendo-os partirem dali com uma ajudinha de seus poderes vampirescos.

    Por fim, Hope voltou ao altar a fim de inquirir a Chefe a respeito do artefato, mas surpreendeu-se ao ver que todos estavam bastante bravos e não hesitaram em expulsa-la da Ordem, fazendo-a devolver não apenas as roupas como também os sprites, que simplesmente se afastaram dela e a trocaram por um atraente pedaço de torta de maçã. A princípio Hope foi dominada pela raiva, falou umas boas ofensas para seus não mais colegas e partiu para seu apartamento, onde foi acometida por uma grande tristeza, não apenas por estar se acostumando com a companhia das criaturas, mas mais ainda por não encontrar Ártemis em lugar algum. A gata simplesmente havia desaparecido enquanto Hope estava fora, e nenhum de seus vizinhos – que ficaram bastante furiosos por serem acordados àquela hora da madrugada – sabia onde poderia estar a gata ou a viu escapulir do apartamento, o que aliás era bastante estranho uma vez que a porta estivera trancada e as janelas fossem bloqueadas com telas de proteção. Seria possível que Ártemis houvesse sido sequestrada?
  • malikabrazilmalikabrazil Posts: 7,297 Moderator
    Agora eu quero saber se houve sequestro! Os cliff-hangers, meu pai!
  • LolitaDoMalLolitaDoMal Posts: 530 Member
    @malikabrazil kkkkk desculpe a demora, o próximo cap provavelmente será o último e vou procurar postar mais depressa, enquanto isso, aqui vai o....

    Capítulo 7 :)

    Hope Langley tinha no rosto uma expressão desolada que Pixie nunca havia visto antes; somado a isso, também bebia plasma por um canudinho enfiado em um saquinho, outra coisa incomum, mas que Pixie achou melhor não questionar em solidariedade à tristeza da amiga a quem ajudava, naquele momento, a procurar pela gata desaparecida, indo de porta em porta e pregando cartazes com a foto de Ártemis pela cidade. As circunstâncias do desaparecimento de Ártemis eram estranhas tanto pelo fato de nunca ter desaparecido do prédio completamente, ou mesmo por horas, bem como pelo fato de que o rato – que continuara a dar sustos periódicos em Hope – ter desaparecido com ela. A teoria de Hope era de que alguém que não estava satisfeito com sua investigação – talvez até mesmo um de seus ex-colegas de Ordem – tivesse sequestrado a gata a fim de ameaça-la, mas esta era uma das estranhezas notadas por Hope, uma vez que até então ninguém se dispusera a mandar-lhe bilhete ou mensagem que confirmasse a teoria. Pixie, por sua vez, dizia suspeitar de que a gata houvesse simplesmente escapulido para um passeio e que voltaria logo, mas era difícil, para Hope, acreditar que Pixie não o dissesse apenas para acalmá-la.

    Juntamente da busca, as duas se ocupavam de debater a respeito do pequeno baú roubado descaradamente por Hope, o qual Sara havia analisado com seus colegas no museu, muito embora isto não lhes tenha levado a respostas mais concretas do que alguma relação com uma tribo muito antiga que habitava as profundas florestas de Selvadorada. Por mais que parecesse à Hope que seguir aquela pista a distanciava bastante de sua investigação a respeito de Esther, ela não conseguia pensar em outra alternativa para encontrar uma forma de abrir o baú. A tribo, segundo Sara, talvez nem mesmo existisse, pois fazia séculos que ninguém via sequer um membro ou descendente da mesma, pois eram um desses povos que estavam constantemente em guerra com outros grupos e acabaram sendo dizimados por uma união de tribos da região, que mais tarde decidiram brigar entre si e destruírem uns aos outros quase tão dramaticamente quanto no primeiro caso.

    – Você só pode estar maluca se está pensando em desbravar Selvadorada sem um mapa, um guia e principalmente sem saber onde procurar ou pelo que – falou Pixie. Ocorreu a Hope que ela poderia levar consigo Sara, que já era experiente naquele tipo de aventura e que sempre contava sobre as tumbas que explorara em Al Simhara e como sobrevivera à morte certa por lá. No entanto, não estava disposta a ouvir os sermões de Pixie, por mais que prometesse manter Sara segura.

    – Ao menos eu sei o que procuro: por uma chave – disse simplesmente.

    – E o que lhe garante que a chave estará em Selvadorada, uma vez que o próprio baú não estava? – Hope limitou-se a bufar, rendida. Não podia nem mesmo perguntar aos locais, visto que a tribo e os conhecedores desta eram praticamente inexistentes.

    Foi pouco mais tarde, quando estava em casa aborrecida e derrotada, que Hope decidiu se preparar para a live na qual contaria aos seus seguidores que estaria abandonando o caso para seguir com outros projetos, afinal agora que não possuía mais as bênçãos dos sprites voltara a sentir-se cansada e indisposta para suas tarefas mais rotineiras, de modo que, finalmente, precisaria seguir o conselho de Pixie e livrar-se de pelo menos um dos grupos dos quais participava, mas ela ainda estava com dificuldades para decidir quais e portanto se afundava em planilhas que planejava para facilitar sua decisão. Entretanto, antes que pudesse começar a live recebeu uma ligação de Sara, que estava muito empolgada com o pequeno baú e queria continuar a especular sobre possíveis templos em Selvadorada que poderiam guardar segredos relacionados. Segundo a arqueóloga, ela e seus colegas haviam percebido criaturinhas entre os hieróglifos que suspeitava se tratarem daquelas que Hope dizia enxergar.

    Enquanto Sara enchia os ouvidos de Hope com nomes de lugares nos mais inóspitos confins de Selvadorada, onde havia lendas sobre um templo escondido, batidas nervosas na porta alarmaram Hope, que correu para atende-la, na esperança de encontrar aquele que procurava ameaça-la usando contra ela sua amada gata. No entanto, deu de cara com três familiares sprites com auras cor-de-abóbora que emanavam tensão e não demoraram a se aproximar para beliscar Hope, exigindo entretenimento e a fazendo se perguntar se afinal não havia como deixá-los mesmo que houvesse sido expulsa da Ordem. Para sua surpresa, os sprites traziam consigo não apenas suas demandas como também Ártemis, que tentava miar para Hope, como quem conta histórias sobre onde estivera, porém tinha dificuldade em fazê-lo por causa do pequeno rato de brinquedo que carregava entre os dentes. Contente pelo retorno da criatura, Hope a tomou nos braços e a cobriu de beijos e abraços.

    Depois que acatou as exigências da gata, que lutava contra o carinho de Hope com suas garras, notou que ao pegar Ártemis, ela deixou cair o ratinho, o qual Ártemis correu para retomar logo que tocou o chão. Atirava o rato para o alto e corria atrás dele de forma alucinada, enquanto Hope se ocupava de contar à Sara a feliz notícia do retorno da gata. Foi então que, em um ataque violento de Ártemis, o rato se partiu ao meio espalhando pelo apartamento uma mistura de espuma e catnip, junto de um pequeno pedaço de papel enrolado que chamou a atenção de Hope, que cuidou de pega-lo antes que Ártemis farejasse a erva que o envolvia e decidisse rasga-lo em sua brincadeira. Após desdobrar cuidadosamente o papel amaçado, Hope se surpreendeu ao notar que se tratava de um pequeno mapa de Selvadorada com instruções de como chegar ao que lhe pareceu um local secreto e muito provavelmente o templo que procurava. Um tanto incrédula, ela lançou à Ártemis um olhar confuso, depois aos sprites que a rodeavam, então de volta ao mapa. Tudo lhe parecia surreal e um tanto suspeito, mas ela não pensou por muito tempo, pois seu silêncio atiçou a curiosidade de Sara, que perguntou se Hope ainda estava na linha.

    – Estou, sim – apressou-se em dizer, e logo abriu a boca para acrescentar sobre seu achado. Ocorreu-lhe que tinha a oportunidade perfeita para incluir Sara em sua investigação e que sua busca seria muito mais fácil se a levasse consigo, mas não soube o que lhe deu quando disse: – Não foi nada, só Ártemis fazendo bagunça – e depois de extrair todas as informações e teorias que Sara possuía sobre o baú e Selvadorada, despediu-se e começou os preparativos para partir em sua aventura.

    Chegou em Selvadorada lá pela madrugada, quando o sol já estava perigosamente surgindo no horizonte, e tratou de conseguir uma casa bem protegida onde pudesse se abrigar durante o dia. Assim que percebeu Selene despontar no céu em sua carruagem de prata, agarrou sua bolsa cheia dos suprimentos sugeridos pelos locais e saiu com Ártemis em direção à mata, armada com suas habilidades e um facão. Alcançou o primeiro bloqueio cheia de energia e otimismo; era um caminho envolvido por árvores, heras e grandes raízes espinhentas que muito incomodou Ártemis quando ela tentou atravessar por entre algumas brechas e falhou. Confiante, Hope sacou seu facão, piscou para Glyph – que lhe seguia representando os espectadores que a assistiam naquela noite – e agitou a arma contra as raízes vigorosamente, conseguindo abrir caminho e irromper pela floresta ao lado de sua gata. Passou por um pântano tenebroso no qual ouvira os sons assustadores da natureza local, distribuindo grunhidos ameaçadores que perturbavam seus ouvidos e faziam Ártemis se eriçar e chiar. Parecia, no entanto, que os barulhos tencionavam simplesmente apavora-la para a afugentar, mas Hope não se intimidou e seguiu até o fim do pântano, onde foi se dar conta de que as ameaças eram mais agressivas do que esperava e acabou atacada por enormes aranhas que a guiaram até inúmeras teias nas quais Hope se emaranhou e quase acabou aprisionada, mas foi salva por lembrar de usar o repelente de aranhas que comprara no mercado local.

    Imediatamente as aranhas se afastaram e desapareceram entre as folhas das árvores, deixando Hope ainda alarmada e cheia de pedaços de teia no cabelo e nas roupas. Ártemis, que parecia tão surpresa quando Hope, saiu de seu esconderijo e lançou um olhar significativo para o início do pântano, como se pretendesse abandonar a jornada, mas fosse o que fosse que estivesse em sua mente, decidiu continuar a seguir sua dona quando esta se aprumou para em seguida se enveredar por entre um caminho bloqueado por grandes folhas de árvores que ela não conseguia enxergar bem. Usou as mãos para afastar as folhas enquanto passava e foi checando o mapa para procurar nele e no caminho os pontos de referência. Afora alguns mosquitos desagradáveis e uma lagarta colorida que decidiu escalar suas costas, Hope e Ártemis finalmente alcançaram o fim da trilha e atravessaram a última cortina de folhas para se depararem com um enorme lago de água cristalina, repleto de vegetação e principalmente vitórias-régias, que apresentava a paisagem que terminava, não muito longe através do lago, em um enorme templo em ruínas.
  • malikabrazilmalikabrazil Posts: 7,297 Moderator
    Aaaaaaa ansiosa pro último!!
  • LolitaDoMalLolitaDoMal Posts: 530 Member
    @malikabrazil muito obrigada por acompanhar minha historinha ^-^ espero que goste do...

    Capítulo 8 (últimoooo)

    O lago que se estendia por toda a entrada mais parecia uma piscina, construída ali no meio do nada. Havia uma longa ponte de pedra que se erguia sobre o lago, guiando Hope até o templo enquanto ela era seguida por Glyph, Ártemis – que avançava ressabiada – e os sprites, que voavam ao seu redor sem lhe beliscar, pois Hope os satisfizera ao compartilhar algumas piadas bobas com seus espectadores. Com o celular na mão, Hope se desviava da magnífica paisagem para ler os comentários daqueles que lhe assistiam e agradecer pelas doações generosas, coisa que muito surpreendeu Pixie, que não escondeu seu contentamento nos comentários que ela própria fez no chat; aliás, também lhe acompanhavam Penny e Sara, que estava bastante aborrecida por não ter sido convidada para a aventura, mas que se dispunha a auxiliar Hope pelo chat com tantas dicas sobre o local quanto precisasse.

    Quando Hope voltou a dar atenção ao cenário no qual se encontrava, viu-se diante da entrada do templo, onde se estendia uma enorme e íngreme escadaria um tanto escorregadia por causa de todo o musgo que crescia nos degraus. Logo que alcançou o topo deu com um gigantesco arco cuja passagem era bloqueada por uma densa nuvem esverdeada a qual Hope não demorou a perceber que se tratava de qualquer substância venenosa. A mensagem de Sara surgiu no chat quase simultaneamente ao momento em que Hope decidira explorar o enorme pátio que cercava a estrutura de pedras que pretendia invadir; Sara a orientava a procurar por mecanismos ornamentados que se destacariam em sua visão, mas que tomasse cuidado com eles, pois eram também armadilhas que podiam prejudica-la se não os acionasse corretamente. Hope encontrou o primeiro: um enorme pilar com asas e figuras disformes e humanoides. Mas, seguindo o conselho de Sara, antes de tentar ativa-la terminou de explorar o pátio e, como sugerira a outra, acabou encontrando outro mecanismo: uma enorme máscara esculpida em formas um tanto ameaçadoras e pintada em cores exóticas que parecia vigiar seus passos, tencionando comunicar-se.

    Atraindo Glyph para frente, Hope o usou para retratar cada aspecto do mecanismo para que Sara pudesse analisa-lo. Enquanto verificava o chat, respondia algumas das mensagens e seguia Ártemis, que estava muito interessada em investigar uma pequena fissura no chão de pedra. Ártemis parou a uma distância segura do arco, para onde seguia a fissura, e Hope decidiu investiga-la mais atentamente para notar, em uma brecha maior por onde espiou, que havia o que parecia ser uma passagem com engrenagens e tubos conectados que se ligavam da máscara até o arco. Só podia ser aquele o mecanismo que desativaria o veneno! Decidida a ignorar a pilastra, Hope voltou à máscara e esperou pela análise de Sara, que infelizmente não podia fornecer muita informação sobre aquele povo que tantos desconheciam. Deduzia apenas que o mecanismo sobrenatural podia compreender Hope e que reagiria se pronunciasse algum tipo de senha corretamente, e por fim sugeriu que a vampira investigasse os arredores à procura de pistas sobre a senha. No entanto, Hope notou que Ártemis foi até a máscara e começou a farejá-la para em seguida sentar-se à sua frente e começar a miar de uma forma estranha, como se falasse.

    Para a surpresa de Hope, a máscara respondeu aos miados da gata com uma fala tão incompreensível quanto, em uma voz ecoante que fez vibrar o templo. Seguiram-se mais alguns miados e falas até que Hope ouviu um estalo e, quando direcionou o olhar para o arco, viu que a neblina venenosa havia desaparecido. Um tanto desconfiada, Hope atravessou o arco primeiro, deixando para trás tanto a gata quanto os sprites; passou depressa, com um salto, e esperou alguns segundos para verificar que não sofria de nenhum mal, então convidou suas criaturas a se juntarem a ela dentro do templo.

    O lugar era pequeno e decorado com placas de pedra que retratavam pinturas rupestres das mais inusitadas. Mesmo sem a ajuda de Sara, Hope foi capaz de identificar que se tratava de algo relacionado aos sprites. Podia ver um povo interagindo com os seres em diferentes situações, mas não era capaz de compreender que tipo de relação possuíam; em uma das figuras o povo parecia descobrir os sprites, em outra havia uma divisão estranha entre eles e algo sombrio que preenchia os arredores, já na última o povo estava no centro, onde um deles segurava um artefato – talvez uma oferenda – e todos estavam cercados pelos sprites. Sara tinha um milhão de deduções a respeito, mas Hope acabou por ignora-las quando se pôs a descer por uma rampa em espiral muito escorregadia, a qual encontrara em uma passagem quase imperceptível que ficava em uma das laterais do pequeno salão. Para sua sorte, sua bota derrapou apenas no final da rampa, de modo que sua queda não foi tão longa nem tão dolorida quanto seria se tivesse despencado do alto.

    Ao levantar os olhos, Hope viu que estava em um longo corredor cujas paredes estavam repletas de figuras que retratavam os feitos do povo em relação à confecção de algo que, ao avançar das pinturas e do corredor, Hope se deu conta que se tratava do pequeno baú que carregava em sua mochila abarrotada de bugigangas. A criação do objeto parecia envolver tanto a carpintaria quanto rituais mágicos, os quais faziam Hope se preocupar com o que aconteceria se o abrisse, ao mesmo tempo em que aumentava sua curiosidade a respeito. Prosseguindo, Hope alcançou o fim do corredor, onde havia mais um arco bloqueado pela neblina venenosa, bem como duas saletas adjacentes onde ela encontrou em cada uma um mecanismo diferente: na da esquerda havia um mecanismo no piso, enquanto na da direita havia três estátuas de esqueletos com lanças as quais Hope percebeu se tratarem de alavancas. Lembrando-se da esperteza de Ártemis, Hope foi até o arco e procurou no chão por uma fissura, mas não a encontrou até olhar para o teto e vislumbra-la; seguiu-a e foi guiada até a sala da esquerda. Não demorou a fazer com que Glyph filmasse o mecanismo para que Sara o analisasse.

    Novamente a resposta de Sara não foi conclusiva o bastante. Havia quatro pisos soltos com diferentes símbolos desenhados em cada. Sara foi capaz de descartar dois deles, mas a solução do quebra-cabeças recaiu sobre Hope, que lançou à Ártemis um olhar esperançoso, mas a gata simplesmente se isolou em um canto onde se sentou para se limpar, ignorando o desafio imposto à Hope. Esta decidiu olhar ao redor à procura de pistas; a princípio encontrou apenas ferramentas muito modernas para terem pertencido aos nativos, o que lhe indicou que não era a primeira a explorar o templo e provavelmente o explorador anterior havia criado aquelas fissuras, mas nada disso ajudava em sua busca, portanto Hope se concentrou em observar as figuras pintadas nas paredes, até que identificou uma que retratava alguém que parecia venerar um símbolo semelhante a um dos que Sara não descartara. Havia ao redor da pessoa uma aura azul e inspiradora, bem como havia sprites desenhados nos cantos da pedra. Hope então chamou suas criaturas e pediu a eles a bênção da inspiração, que foi concedida imediatamente.

    Receosa, Hope se aproximou do mecanismo e pisou hesitante no piso escolhido. Sentiu-se afundar e em seguida veio o estalo já conhecido. Ártemis levantou-se de um pulo e correu até a passagem, agora aberta. Hope a seguiu para deparar-se com uma pequena sala com outra rampa que levava à uma varanda no topo do templo, onde havia uma longa ponte flutuante que se direcionava para uma catarata cujo som da queda da água era quase ensurdecedor, embora a vista fosse simplesmente magnífica. No fim da ponte havia um baú de tesouro e Hope já sabia o que encontraria em seu interior – ou ao menos esperava que fosse o que procurava e não uma maldição. Sem se conter, Hope correu em direção ao tesouro, fazendo com que Glyph flutuasse muito mais depressa para segui-la. Ártemis preferiu não se arriscar diante de tanta água em uma ponte na qual não havia cerca e, portanto, ficou lá na varanda, esperando. Sem pensar duas vezes, Hope abriu o pesado baú com sua força vampírica e viu seu rosto ser iluminado por uma luz dourada sobrenatural que desapareceu tão logo ela removeu o único item que encontrou: uma pequena chave igualmente dourada com formato peculiar cuja função Hope sabia bem.

    Após tirar o pequeno baú da mochila, Hope notou que os sprites se tornaram muito agitados e começaram a belisca-la, muito embora conservassem sua aura amigável. No entanto, ela os ignorou e levou a chave ao baú, mas se deteve ao ser alertada pelo miado alto de Ártemis. Hope se virou na direção de sua gata para notar que chiava e miava voltada para a direção de uma figura que avançava pela ponte, tencionando alcançar Hope. Tinha uma aparência mais velha e decadente, mas Hope não deixaria de reconhecer Esther Mudget.

    – Você!? – exclamou Hope em um misto de dúvida e surpresa. Com o passo lento e uma breve risada murmurada, Esther se aproximou. – Não faz ideia do quanto eu a procurei... – começou Hope, mas foi interrompida por Esther.

    – Ah! Mas eu sei o quanto, minha cara! – falou com algum entusiasmo. – Estive acompanhando sua jornada e lhe auxiliando pelas sombras, pois logo que a encontrei percebi que seria perfeita para finalmente me libertar – falou e em seguida fez um gesto exagerado de agradecimento.

    – Como assim auxiliando? – quis saber Hope, sem sair de sua posição, mas permitindo que Esther continuasse a se aproximar.

    – Fui eu o perfil que lhe sugeriu fazer a oferenda, para começo de conversa; além disso, encontrei sua gata perdida e dei a ela o mapa que a trouxe aqui. Veja, fui a mão amiga que lhe guiou até aqui pelas sombras – concluiu dramática.

    – Mas por que? – indagou Hope, que não compreendia o que Esther queria dizer com “libertar”.

    – Desde minha falta com os sprites, como você bem sabe, jamais deixei de ser atormentada por eles, mas hoje isso irá mudar, pois você tem a chave e o artefato que lhes dará a maior de todas as recompensas: aquela que foi criada pelo povo que os venerava e que fará com que minha dívida seja finalmente paga para que eu possa viver em paz! – O olhar indagador de Hope foi o suficiente para que Esther explicasse os tantos anos que passara tentando vencer ou burlar os desafios daquele templo, até finalmente se dar por vencida. Por sorte encontrara o canal de Hope e conseguiu desperta-la para aquela missão. – Finalmente estarei livre – falou um tanto alegre demais, com um sorriso estranho, e estendeu uma das mãos na direção de Hope. – Vamos, criança, me entregue a relíquia. Hope, no entanto, estava bastante desconfiada.

    – Tudo bem – começou –, lhe darei a relíquia, mas conte-me exatamente o que ela faz e me garanta que não é uma caixa de Pandora – o olhar desconcertado de Esther fez aumentar sua desconfiança. É claro que a mulher se apressou em negar, mas já estava perto o suficiente para que Hope percebesse o nervosismo no suor que escorria por seu rosto. Disse que, na verdade, a relíquia liberaria uma grande benção aos sprites, recorrendo às imagens que decoravam todo o templo para explicar sua criação. Acontece que Hope havia passado tempo o bastante no museu com Sara para aprender a interpretar imagens como aquelas e, uma vez que pensara melhor sobre estas, percebeu que na verdade retratavam um povo que, assim como os membros da Ordem, venerara os sprites, mas, assim como Esther, tiveram com eles alguma desavença; além disso, aquela última pintura não deixava dúvidas de que a relíquia era nociva e pretendia repelir os sprites antes de beneficia-los. Por fim, a reação negativa dos sprites ao momento em que Hope inserira a chave na fechadura era comprovação o bastante de sua teoria, portanto Hope recusou-se a entregar o baú.

    Foi então que o rosto amigável de Esther se contorceu em raiva e ela simplesmente avançou contra Hope, a fim de arrancar a relíquia de sua mão. Disse, aos berros, o quanto detestava as criaturas que para sempre lhe atormentariam e como passara anos pesquisando sobre meios de destruí-los, até que finalmente encontrou os inscritos daquele povo que os odiava tanto quanto ela. Por último, disse que não deixaria que ninguém destruísse seus planos, quando estava tão próxima de acabar com aquelas criaturas nefastas. Mas os sprites imediatamente vieram em defesa de sua amiga e atacaram Esther em uma nuvem de cores que muito dificultava a visão daqueles que assistiam a tudo online. Por um instante tudo o que se via era o baú passando de uma mão a outra, aliado a puxões de cabelo, mordidas e empurrões; depois a força vampírica de Hope prevaleceu de modo que ela arrancou o baú das mãos de Esther, que cambaleou na direção do penhasco. Imediatamente os sprites começaram a atacar sua cabeça, bloqueando sua visão e, como não via por onde andava, Esther acabou pisando em falso e caiu do penhasco deixando para trás um grito constante.

    Sem pensar duas vezes – pois se o fizesse não teria agido como agiu –, Hope enfiou a relíquia de volta na mochila e saltou do penhasco, mergulhando no profundo lago que circulava o templo. Encontrou Esther ainda afundando e completamente inconsciente, então a agarrou e levou-a à superfície, onde devolveu-lhe a vida e não perdeu tempo em tirar da mochila cordas para amarrar suas mãos. Deixou com Esther uma faca para que se soltasse depois que ela própria houvesse deixado a floresta. Apesar da paranoia de perseguição que acompanhou Hope até a casa onde estava hospedada, sua jornada de volta a San Myshuno correu sem novas surpresas, assim Hope não pode deixar de desejar, lá no fundo, que Esther houvesse desistido de seus planos. A relíquia ela entregou a Sara, que cuidaria de mantê-la longe das mãos de Esther e de outros que compartilhassem seus pensamentos. Hope voltou para casa decidida a se trancafiar por três dias em um caixão a fim de se recuperar do cansaço mental e físico proporcionado por aquela aventura, e quem sabe conseguir ignorar o que Pixie dizia sobre estar se tornando aos poucos uma pessoa melhor, principalmente depois de ter feito com os sprites um acordo para que deixassem Esther em paz com sua própria loucura. Os sprites não deixariam Hope tão cedo, mas ela não se importava, pois, com ou sem os malefícios e benefícios, por alguma razão estranha ela gostava de ter por perto aquela companhia sobrenatural e irreal que somente ela era capaz de enxergar.

    Fim.
  • malikabrazilmalikabrazil Posts: 7,297 Moderator
    Gostei muito do final, parabéns e obrigada por compartilhar a história conosco!
  • pmattospmattos Posts: 4,389 Moderator
    @LolitaDoMal, perdão por só estar lendo e comentando agora. Andei sumida dos fóruns e redes sociais, estava precisando de um tempo.
    Adorei toda a história, e por mais que vc tenha criado uma protagonista tão antipática, não pude deixar de amá-la, aheuaehauheuaheuaeheauh criatura irritante e cativante.

    Obrigada por compartilhar com a gente mais essa história cheia de aventuras e emoções! <3
  • LolitaDoMalLolitaDoMal Posts: 530 Member
    Eu que agradeço pela atenção, @pmattos ^-^ que bom que gostou da minha criatura irritante, pois tenho outras tantas iguais que eu amo odiar haha é bom ver vc de volta! É sempre bom se afastar um pouco dessas mídias ou a gente fica maluca :s espero que vc esteja bem <3
  • pmattospmattos Posts: 4,389 Moderator
    Irritante define melhor a protagonista do que antipática, eu usei o termo errado! Hauheuaheuaheuaheuah
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